Vai ter golpe? O que significa o desembarque dos generais? Qual a linha justa da esquerda nesse cenário?
Foto: Marcos Corrêa/PR/Flickr
De antemão, adianto: golpe JÁ FOI DADO em 2016. Estamos dentro de um golpe. Os golpismos agora são para a manutenção do golpe. Isso pode incluir um fechamento maior do regime ou não. Pouca importa para eles. O importante é que o comando continue com os EUA, as Forças Armadas e a classe dominante.
O desembarque dos generais é ótimo, o problema é o que a oposição faz ou deixa de fazer com esse fato. Em vez de aproveitar para denunciar ambos os inimigos, Bolsonaro e os militares genocidas, por estarem momentaneamente acuados, resolvem comprar a narrativa das Forças Armadas e lamber as botas dos genocidas fardados. Assim fica difícil.
Perceba, os golpes na América latina não são mais como em 1964, as formas de controle hoje são mais sofisticadas, e a mais eficiente é controlar o espectro político total, prendendo a gente, através da guerra da informação, numa polarização (falsa ou não) na qual quem controla os dois polos vai sempre ganhar.
No caso atual, os generais desembarcam do governo embalados por notícias plantadas (todas em off, nenhuma oficial) de que não concordariam com as loucuras de Bolsonaro, criando a falsa imagem de uma ala moderada, legalista e racional das Forças Armadas. Mas, ao mesmo tempo, mais de 6 mil militares, maioria da ativa, são mantidos no governo.
Ou seja, os militares continuam sendo governo ao mesmo tempo em que buscam vender uma imagem desvinculada do Bolsonaro, que está cada vez mais queimado. Cenário perfeito. Ser situação e oposição ao mesmo tempo. Aconteça o que acontecer, sairão vencedores. Seguirão no comando. E, como disse no início, é o que importa para eles.
E aí, boa parte da esquerda, em vez de denunciar essa farsa, embarca na narrativa. Isso mesmo. Embarca de peito aberto em uma narrativa onde ela necessariamente sairá derrotada.
Eu aceito tamanha ingenuidade da população em geral, mas não de líderes políticos envolvidos com a política nacional e que tem, como um dos grandes deveres, dar subsídios para as massas conseguirem fazer uma leitura critica do cenário político, mas fazem justamente o oposto.
Posso estar completamente equivocado, aceito a possibilidade, mas me parece claro que a linha justa hoje é fora Bolsonaro E militares genocidas, jogando todos, como iguais, para o outro lado, construindo a polarização que nos interessa.